O roteiro original do filme Terra estrangeira, premiado pela Associação Paulista de Críticos de Arte como o Melhor Roteiro de 1995, é assinado por Daniela Thomas, Marcos Bernstein e Walter Salles, com a colaboração de Millôr Fernandes. Tem como pano de fundo o período da posse de Collor na presidência da República. Em conseqüência do caos gerado pelo anúncio do novo plano econômico, instala-se nas sociedade a decepção, a frustração e o pânico. Nessa atmosfera, vai tomando forma uma narrativa que acompanha as trajetórias separadas de Paco e Alex. Ele, em São Paulo; ela, em Lisboa. Ele, estudante, filho de uma modesta costureira espanhola que mora em frente ao Minhocão; ela, garçonete de um restaurante lisboeta, divide um apartamento com um músico brasileiro desempregado que ganha a vida fazendo contrabando em Portugal. As histórias de Paco e Alex acabam em Lisboa, para onde ele embarca numa viagem sem retorno. Do adensamento da trama emerge a imagem da dupla face da terra estrangeira: aquela de onde se sai e a outra, para onde se vai e onde se materializa afinal a desilusão de jovens deserdados e expatriados. Nesse contexto, Portugal revela-se não mais como o país, mas como uma terra também em crise de identidade, que recusa seus filhos, brasileiros, angolanos, moçambicanos, cabo-verdianos, refletindo assim o modo como os próprios portugueses são tratados pelo resto da Europa.